A ludicidade está intrínseca no ser humano desde a
pré-história. O ato de brincar é a mais pura forma da criança se expressar, é brincando que ela expressa o que está sentindo e também interioriza o
mundo ao seu redor. Porém, o ato de brincar vai muito além, é neste momento que
os jogos começam a apresentar-se, e será através deles que a criança
desenvolverá boa parte de suas habilidades motoras e cognitivas.
Ao brincar, a criança simula a
vida real, ela respeita as regras do jogo além de exercitar o seu cognitivo,
desta forma o desenvolvimento psicomotor pode ser estimulado quando o jogo é
utilizado. Acredita-se que na presença dos jogos, a criança estimulada terá
maior interesse pelas atividades propostas, desta forma levando-a a um maior
desenvolvimento.
Froebel (apud ALMEIDA 2000) acreditava nos
métodos lúdicos da educação. Ele dizia que o educador faz do jogo um
instrumento para promover a educação para crianças, e também é uma forma de
conduzir a criança à atividade, auto-expressão e a socialização.
Porém a função do jogo para a criança não é somente
para revelar o lúdico. Eles desenvolvem habilidades motoras e cognitivas tais
como: esquema corporal, espaço, raciocínio lógico, ritmo, lateralidade,
equilíbrio, socialização coordenação motora geral, entre outros.
Existem várias definições acerca do jogo. A
definição que temos no dicionário Aurélio é que o jogo “é uma atividade física
ou mental fundada em sistemas de regras”.
Os jogos infantis são provenientes de práticas
abandonadas por adultos e foram transmitidos de geração em geração. Alguns
desses jogos permanecem com sua estrutura inicial, já outros, se modificaram
recebendo novos conteúdos.
No Brasil, os jogos infantis
foram grandemente influenciados por portugueses, negros e índios, e fazem parte
da cultura infantil na atualidade.
Para a
criança, o jogo não é apenas uma brincadeira, um momento de lazer, nele ela
exterioriza sentimentos e manifestações do mundo ao seu redor. Para ela, não
existe diferenciação entre jogo e brincadeira, pois os dois são manifestações
lúdicas.
O jogo é um elemento de grande
importância no cotidiano infantil. Além disso, podemos considerar que o jogo
educa a criança e estimula a interação com o grupo, conversar e resoluções de
problemas entre as crianças. Ele também ganha uma conotação educativa quando há
intervenção do educador.
O jogo expõe a criança a
desafios e obstáculos. Ele deve ser elaborado para proporcionar vivência, pois
a criança, quando joga, presencia e vivencia as influências que é atribuído ao
jogo, como: alegrias, prazeres, ansiedade, entre outros.
Soler (2003) em seu livro jogos
cooperativos para educação infantil descreve algumas funções essenciais do
jogo. O autor afirma que com o jogo a criança explora o mundo ao seu redor,
aprimora relações interpessoais, utiliza a fantasia trazendo o mundo real para
suas brincadeiras, experimenta novas sensações através dos seus erros e
acertos.
Contudo, a utilização dos jogos durante o processo
de desenvolvimento da criança é indispensável, pois a partir daí, aprimora-se
os aspectos cognitivos (representam a inteligência da criança), afetivos e
motores.
A
cognição está relacionada com a afetividade, pois a criança apresenta suas
atitudes de acordo com seu pensamento. Assim, os aspectos cognitivos (espaço,
tempo e casualidade) também estão relacionados aos afetivos (características
individuais, motivação, curiosidade e criatividade), uma vez que suas
manifestações se dão no pensamento egocêntrico. Estes aspectos surgem na fase
simbólica da criança, através da assimilação do meio em seu jogo. É na fase
simbólica que a criança demonstra a capacidade de imitar, linguagem e desenho.
Além desses dois aspectos, existe ainda o aspecto
motor. Dele fazem parte as noções de coordenação, equilíbrio, velocidade,
agilidade e potência. Cada uma dessas noções são bastante exercitadas e
desenvolvidas com o jogo.
À medida que
a criança joga, ela deixa transparecer seus sentimentos, sejam eles de alegria,
agressividade, tristeza ou excitação. Portanto, uma criança se manifesta a
partir do que está sentindo.
São nos três primeiros anos de
idade que o jogo é aflorado no cotidiano da criança. Ao brincar, ela tenta
superar as dificuldades presentes no jogo. Neste momento, o adulto não deve
interferir, apenas, observar, pois, a criança está, desta forma, aprimorando
seu conhecimento motor.
Nota-se que com a utilização dos jogos e materiais
pedagógicos adequados, as crianças desenvolvem o sentido de ordem, ritmo,
forma, cor, tamanho, do movimento, da harmonia e do equilíbrio. Apesar disso, a
utilização do jogo nas escolas foi, por muito tempo, criticada, mas é inegável
sua contribuição para a aprendizagem de varias disciplinas como: matemática,
geografia, historia, educação física, entre outras.
Desta forma, torna-se claro que
o jogo possui duas funções: uma lúdica; outra educativa. A primeira é quando
uma atividade é prazerosa e alegre. Já a segunda é quando o jogo ensina algo,
desenvolve o conhecimento infantil.
Essas duas funções do jogo são
dependente uma da outra, pois quando se perde a ludicidade, o jogo se
transforma em um instrumento de trabalho e assim, deixa de ser jogo.
O jogo passa por vários
estágios, o estágio das regras, ideias, estratégias exceções e analises das
possibilidades, por isso é indispensável sua presença na infância e seu uso
deve ser incentivado na escola. É de extrema importância que a criança esteja
inserida em um ambiente onde existam brincadeiras.
Além disso, o jogo ajuda a
criança de várias maneiras, desenvolve a sua capacidade de, não só resolver
problemas, mas também encontrar várias maneiras de resolvê-los.
Para a criança o jogo é a
abertura à fantasia, ao imaginário, é também uma atividade importante na
construção e desenvolvimento da personalidade, na interação com outras pessoas.
É a partir de jogos e brincadeiras que as crianças
percebem e assimilam a sociedade a sua volta recriando a realidade e fazendo
parte dela. Portanto, o jogo é condição para o desenvolvimento infantil, já que
as crianças assimilam e podem transformar a realidade quando jogam. Cabe
lembrar que cada criança é um ser único dentro desse processo de
desenvolvimento.
Fica evidente que as dificuldades e limites
impostos pelo jogo, pela brincadeira certamente contribuirão para a criança em
vários aspectos, ajudam a criança a se inserir no mundo e lidar melhor com as
frustrações futuras.
A prática de atividades lúdicas,
favorece na capacidade de relacionamento, na maturidade emocional e motora do
ser humano além de despertar um comportamento sadio.
Piaget (apud FREITAS e
ASSIS 2006) dividiu o desenvolvimento cognitivo em fases, ou etapas. Cada fase
define um momento em que as estruturas cognitivas da criança, são construídas.
São elas:
Fase sensório-motora (de 0 a 2 anos) - O
bebê possui reflexos e capacidade inatos de adaptação e equilíbrio às
inter-relações com o meio e utiliza-os para conhecer o que é novo e até mesmo
para relacionar com outras crianças. É nesta fase, que a criança constrói a
noção de “eu” sendo capaz de se diferenciar do seu meio, descobrindo o seu
próprio corpo.
Fase
pré-operatório (de 2 a 7 anos) - Nela, a criança começa a representar situações
proporcionadas pelo meio. Assim, quando uma criança pega uma boneca acreditando
ser um bebê, a coloca no colo e age da mesma forma que sua mãe agiria consigo. É nesta fase
que se dá o aparecimento da linguagem.
Fase de
operações concretas (de 7 a 11 anos) - A criança, nesta fase, torna-se menos egocêntrica
e ela, agora, consegue diferenciar o real do imaginário em sua percepção.
O pensamento lógico torna-se mais preponderante e as ações interiorizadas ficam
cada vez mais reversíveis, a criança começa a compreender que qualquer forma,
ordem e posição podem voltar a sua forma, ordem e posição inicial. Nesta fase,
as regras são de interesse da criança quando aplicadas a brincadeiras.
Fase de
operações formais (de 11 anos em diante) - Nesta fase do desenvolvimento
cognitivo a dedução e a lógica por meio da implicação desenvolvem-se, o
indivíduo é capaz de raciocinar além do momento presente. Assim sendo, é a
partir desta fase que se pode trabalhar com hipóteses, a princípio, nem
verdadeira nem falsa, apenas possibilidades, e isso permite que o indivíduo
estenda seu pensamento.
Com o jogo a criança explora seu corpo e o meio,
assimila conhecimentos que enriquece a sua personalidade e aprende a formular
soluções rápidas para problemas no seu dia-a-dia.
O jogo é uma forma divertida que
a criança encontra para aprimorar suas habilidades, afim de melhor desenvolver
suas atividades cotidianas.
É jogando que ela é estimulada a
superar desafios motores e cognitivos, fazendo com que a criança comece a criar
soluções, a cooperar e a vivenciar novas experiências motoras , resultando em
um desenvolvimento infantil mais completo possível.
Desta forma, nota-se que o jogo,
as brincadeiras são indispensáveis para o desenvolvimento infantil, sendo
reconhecido, segundo Santos (apud MAGNANI, 1998), pela constituição
brasileira (1988) e pelo Estatuto da criança e do adolescente (1990). Comenta
que todas “(...) são conquistas importantes, que colocam o brincar como
prioridade, sendo direito da criança e dever do Estado, da família e da
sociedade. Essa é uma questão legal e aceita por todos...” (op. cit. 1998).
O jogo além de despertar na criança os sentimentos
de: cooperação, motivação, a criatividade e a sociabilidade. O mesmo desenvolve
habilidades como: esquema corporal, estruturação de espaço e de tempo,
raciocínio lógico, equilíbrio, coordenação geral entre outros. Sendo assim,
indispensáveis para que haja um desenvolvimento infantil pleno.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
ALMEIDA, Paulo Mendes de. Educação lúdica, técnicas e
jogos pedagógicos. 10ª ed. São Paulo: Loyola, 2000.
FREITAS, Maria Luisa de Lara Uzun de; ASSIS, Orly
Zucatto Mantovani de. Os aspectos
cognitivo e afetivo da criança avaliados por meio das manifestações da função
simbólica. Revista Eletrônica Ciências & Cognição. 2006.
MAGNANI, Eliana Maria. O brincar na pré-escola: um
caso sério? 1998. 106 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Estadual de Campinas, Campinas 1998.
Rizzi, Leonor e Haydt, Regina Célia. Atividades
lúdicas na educação da criança. Ed. Ática, 6º edição, Série Educação. 1997.
ROBERTO ZAFFALON
JÚNIOR, José. Jogo e Ludicidade: contribuições para o
desenvolvimento infantil. Revista
Digital - Buenos Aires - Ano 14 - Nº 137 - Octubre de 2009. <http://www.efdeportes.com >. Data de acesso: 25/05/2012.
SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos para
educação infantil. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.
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